Transtorno de Pânico
Na mitologia grega, “Pã” é um deus dos pastores e rebanhos, representado como divindade semi-humana: o rosto barbudo e enrugado, queixo saliente, expressão animalesca, a testa é ornada com dois cornos; o corpo é peludo e os membros inferiores são de bode, as patas são magras e nervosas. É dotado de muita agilidade, rápido na corrida, sabe dissimular-se nas moitas, onde se esconde para espiar as Ninfas e assustá-las. É dito também que surgia repentinamente na Ágora ateniense, durante as assembleias, para aterrorizar as pessoas e tumultuar as discussões. A palavra “pânico” deriva de “Pã” e representa um medo infundado, susto ou pavor repentino.
Manifestações clínicas e diagnóstico atual
O transtorno do pânico – TP (também chamado de ansiedade paroxística episódica) é caracterizado pelos ataques recorrentes de ansiedade intensa em circunstâncias imprevisíveis (ataques de pânico). Além da ansiedade intensa (pânico), a pessoa tem a sensação de morte iminente, de perda do controle de si ou de ficar “louco”. Essas crises de ansiedade são acompanhadas de vários sintomas físicos: palpitações, dor no peito, tontura, falta de ar, vertigens, sudorese excessiva, sensação de estar “aéreo”, sensação de desmaio, formigamentos no corpo, ondas de calor e frio, náuseas e outros. Em geral duram alguns minutos, raramente mais que uma hora. Como os ataques de pânico são imprevisíveis e frequentes, a pessoa desenvolve o medo de ter novos ataques, passando a tomar medidas “preventivas” para evitar lugares ou situações que supõe, podem desencadear novas crises. Desenvolve fobias que são denominadas de agorafobia; passa muitas vezes a ter uma vida restrita, sendo incapaz de ficar sozinha ou de ir a lugares públicos. Muitas vezes tem uma ansiedade persistente, antecipatória, sempre preocupada com a possibilidade de ter novos ataques de pânico.
O TP atinge cerca de 2 a 3 % da população, em geral inicia-se na adolescência ou no adulto jovem, sendo mais frequente nas mulheres. É frequente a ocorrência de prolapso da válvula mitral (uma das válvulas do coração) em pacientes com transtorno de pânico. Algumas doenças físicas, como o hipertireoidismo e o feocromocitoma, podem se manifestar com ataques de pânico. Pacientes com TP podem desenvolver secundariamente quadros depressivos ou mesmo de dependência de drogas ou álcool.
Suas causas são desconhecidas. Há fatores predisponentes e fatores desencadeantes da doença. A hereditariedade parece ter um peso, na medida que parentes de portadores de TP têm maior chance de apresentar a doença. Alguns fatores psicológicos ligados à primeira infância, especialmente vivências de ansiedade de separação parecem tornar os indivíduos vulneráveis. Em indivíduos predispostos é possível desencadear ataques de pânico por meio de medicações (Isoproterol, Lactato), demonstrando que eles são vulneráveis à doença. Por outro lado, medicamentos que agem sobre a serotonina (neurotransmissor do sistema nervoso) podem bloquear os ataques de pânico.
O TP pode ser desencadeado por fatores emocionais que levem a estresse, por drogas (maconha, cocaína etc.) e por doenças físicas. Na maioria das vezes o TP se torna autônomo, passando a ocorrer independentemente de fatores externos.
Muitos dos indivíduos que desenvolvem TP apresentam ansiedade, insegurança, tensão, dificuldade para relaxar, preocupação excessiva, mesmo antes de ter as crises. Essas características de personalidade parecem torná-los mais vulneráveis à doença.
Muitos indivíduos desenvolvem agorafobia bastante limitante mesmo tendo tido apenas um ataque de pânico. Outros continuam com a agorafobia mesmo após terem as crises controladas com a medicação. Fatores psicológicos influem bastante no modo como essas pessoas lidam com suas situações de ansiedade.
Abordagem terapêutica
O TP é uma doença em que fica evidente a necessidade da integração entre as abordagens farmacológica e psicoterápica no tratamento do paciente. Os ataques de pânico podem ser controlados com medicamentos antidepressivos em baixas doses. Já os sintomas fóbicos raramente melhoram espontaneamente, mesmo após o controle das crises, requerendo uma abordagem psicoterápica.
Os medicamentos antidepressivos, particularmente aqueles com ação predominante no sistema serotoninérgico (os inibidores seletivos da recaptação da serotonina, por exemplo, a Fluoxetina, o Escitalopram, a Sertralina), são utilizados de modo contínuo para controle dos ataques de pânico. Como demoram algumas semanas para produzir seu efeito terapêutico, por vezes são utilizados também os benzodiazepínicos (por exemplo, o Clonazepam, o Alprazolam, o Bromazepam), os quais propiciam melhora rápida dos ataques de pânico. Uma vez que o quadro esteja controlado com o antidepressivo, o Benzodiazepínico deve ser suspenso gradualmente.
A evitação (esquiva) fóbica requer abordagem psicoterápica, para que o paciente se sinta seguro para retornar a suas atividades cotidianas, sem as limitações impostas pelo medo de ter novas crises. Aspectos relacionados a psicodinâmica da personalidade serão aprofundados visando a explorar situações de conflito que possam ser desencadeadoras das crises. A experiência assustadora de perda de controle sobre as próprias emoções parece ser central nessas pessoas.
Muitos portadores de TP se descrevem como pessoas medrosas, nervosas e tímidas na infância, passaram por experiências de desconforto em relação a sentimentos agressivos, lidando mal com tais sentimentos e referem que seus pais eram assustadores, críticos e controladores. Tendo uma personalidade frágil, frequentemente tomada por vivências de vazio e desamparo, necessitam de um outro para suprir tais funções. É tarefa do psicoterapeuta auxiliar a pessoa a construir referências internas que possam promover melhor integração das vivências, preenchendo o espaço vazio que tanto a deixa angustiada.